Foto: Araquém Alcântara |
Respira ação. Ato
de inspirar e expirar. Inspirando toda a
vida do universo. Compartilhando o ar e suas minúsculas partículas. Inspirando
a alegria e a dor.
Inspirando amigos e
desconhecidos. Não há inimigos.
Inspirando raivas, amores,
ternuras, terrores.
Inspirando o odor das matas e das
carniças. A fragrância das flores e das fezes que se tornam o húmus de onde
surgem as pétalas suaves e perfumadas.
Inspirando o céu e todos os seus
anjos.
Inspirando a Terra e todos os
seus seres.
Inspirando dentro da terra e
todos os seus gases, fogo, calores.
Inspirando seu corpo e seus cheiros.
Inspirando dentro de sua mente
fragrâncias e fedores.
Em cada inspiração, toda a vida
se manifesta. Somos a vida.
A inspiração só acontece se os
pulmões estiverem vazios. Vazios de si. Vazios do outro. Vazios de intenção.
Abertos a receber o novo.
Ar. Ar que entra e sai. Sai e
entra. Renovado, sempre novo.
Expirar profundamente.
Expirar os medos e aflições.
Expirar a vida e a morte.
Expirar o sossego, a tranqüilidade
.
Numa rede, balançando, brisa
fresca, solta ao vento. O ar que enchia os pulmões, que circulara pelas veias,
células, artérias, órgãos e nos deixa cheios de ares.
Ares de importância, de ganância,
de se achar. De se achar melhor que os outros. De criticar, abominar, odiar.
Ares de se achar feio e insuficiente. Ares que penetram as entranhas. Ares que
percorrem sinuosos canais e sem vitoriosos, livres a flutuar.
Expirando pensamentos, idéias,
conflitos.
Expirando crianças e idosos.
Expirando cães e lobas.
Expirando árvores e insetos.
Expirando, todo o cosmos se esvazia e se abre. Abre-se ao novo.
Primeiro o vazio, o expirar.
Sinta o ar em suas narinas. Qual é mais quente, qual é mais frio? O que entra
ou o que sai?
Depois observe a barriga,
abdômen, plexo solar. Ao inalar o ventre se expande, o ar preenche os pulmões,
cada cavidade, até o ápice. Depois, tão rápido e ao mesmo tempo tão lento, vai
saindo, esvaziando. De cima para baixo, do ápice à base. Exalando, exalando.
Suave, sem pressa. Como se não tivesse mais nada a fazer.
Apenas respirar. Esvazia e
preenche. Entra e sai. Sai e entra. Sinta o calor e o frio. Sinta o odor e o
valor de cada partícula sagrada desse oxigênio que nos anima e nos faz rir ou
chorar.
Basta, apenas, respirar.
Se estiver numa maré baixa,
triste, deprimido, emburrado, com vontade de se drogar, beber ou fumar. Aquieta
a mão. Segura um pouco. Faz uma flutuação. Como se tivesse nas mãos um
cigarrinho enrolado, faz bico, puxa bem forte – o ar puro.
Unidos pelo mesmo ar. Respirando
conscientes. Cientes do respirar.
Começa assim nossa cura. Quem
respira sou eu ou é o ar?
Quando se vai além, cada instante
inteiro é nosso.
A cada expiração, segue-se uma
inspiração.
Inspiração de poesia, de
literatura, de criatura que cria.
Depois expira.
Solta, se liberta. Livra-se de
tudo. Purifica.
Recomeça.
Até que um dia apenas expira.
Relaxa. Em que galáxia está a próxima inspiração? Todo o universo respira em
cada uma de minhas-suas-nossas narinas.
(Monja Coen – Sempre Zen,
aprender, ensinar e Ser)
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