sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A respiração


Foto: Araquém Alcântara




Respira  ação.  Ato de inspirar e expirar.  Inspirando toda a vida do universo. Compartilhando o ar e suas minúsculas partículas. Inspirando a alegria e a dor.

Inspirando amigos e desconhecidos. Não há inimigos.

Inspirando raivas, amores, ternuras, terrores.

Inspirando o odor das matas e das carniças. A fragrância das flores e das fezes que se tornam o húmus de onde surgem as pétalas suaves e perfumadas.

Inspirando o céu e todos os seus anjos.

Inspirando a Terra e todos os seus seres.

Inspirando dentro da terra e todos os seus gases, fogo, calores.

Inspirando seu corpo e seus cheiros.

Inspirando dentro de sua mente fragrâncias e fedores.

Em cada inspiração, toda a vida se manifesta. Somos a vida.

A inspiração só acontece se os pulmões estiverem vazios. Vazios de si. Vazios do outro. Vazios de intenção. Abertos a receber o novo.

Ar. Ar que entra e sai. Sai e entra. Renovado, sempre novo.

Expirar profundamente.

Expirar os medos e aflições.

Expirar a vida e a morte.

Expirar o sossego, a tranqüilidade
.
Numa rede, balançando, brisa fresca, solta ao vento. O ar que enchia os pulmões, que circulara pelas veias, células, artérias, órgãos e nos deixa cheios de ares.

Ares de importância, de ganância, de se achar. De se achar melhor que os outros. De criticar, abominar, odiar. Ares de se achar feio e insuficiente. Ares que penetram as entranhas. Ares que percorrem sinuosos canais e sem vitoriosos, livres a flutuar.

Expirando pensamentos, idéias, conflitos.

Expirando crianças e idosos. Expirando cães e lobas.

Expirando árvores e insetos. Expirando, todo o cosmos se esvazia e se abre. Abre-se ao novo.

Primeiro o vazio, o expirar. Sinta o ar em suas narinas. Qual é mais quente, qual é mais frio? O que entra ou o que sai?

Depois observe a barriga, abdômen, plexo solar. Ao inalar o ventre se expande, o ar preenche os pulmões, cada cavidade, até o ápice. Depois, tão rápido e ao mesmo tempo tão lento, vai saindo, esvaziando. De cima para baixo, do ápice à base. Exalando, exalando. Suave, sem pressa. Como se não tivesse mais nada a fazer.

Apenas respirar. Esvazia e preenche. Entra e sai. Sai e entra. Sinta o calor e o frio. Sinta o odor e o valor de cada partícula sagrada desse oxigênio que nos anima e nos faz rir ou chorar.

Basta, apenas, respirar.

Se estiver numa maré baixa, triste, deprimido, emburrado, com vontade de se drogar, beber ou fumar. Aquieta a mão. Segura um pouco. Faz uma flutuação. Como se tivesse nas mãos um cigarrinho enrolado, faz bico, puxa bem forte – o ar puro.

Unidos pelo mesmo ar. Respirando conscientes. Cientes do respirar.

Começa assim nossa cura. Quem respira sou eu ou é o ar?

Quando se vai além, cada instante inteiro é nosso.

A cada expiração, segue-se uma inspiração.

Inspiração de poesia, de literatura, de criatura que cria.

Depois expira.

Solta, se liberta. Livra-se de tudo. Purifica.

Recomeça.

Até que um dia apenas expira. Relaxa. Em que galáxia está a próxima inspiração? Todo o universo respira em cada uma de minhas-suas-nossas narinas.

(Monja Coen – Sempre Zen, aprender, ensinar e Ser)




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