Muitas pessoas são apegadas à língua. A língua é algo muito interessante. Nós temos dois olhos, dois ouvidos e duas narinas: qual a razão de termos apenas uma boca e uma língua? Essa boca tem um trabalhão enorme! Está sempre comendo e falando, sem trégua. Está sempre desejando experimentar boas sensações - através das comidas, bebidas e do prazer de fazer discursos. A maior parte dos nossos mais profundos apegos vêm desta língua. Não são muitos os que vêm dos nossos ouvidos, narinas ou olhos. Talvez, se possuíssemos mais uma boca e língua, nossa vida fosse mais fácil, pois ambas não se sentiriam tão assoberbadas com tanto trabalho. Mas, uma só língua já causa tantos problemas ao mundo que devemos mesmo é nos considerar afortunados por não termos outra. De fato, dizer que dos nossos cinco órgãos dos sentidos primários (olhos, ouvidos, nariz, língua e tato), é a língua a que causa mais sofrimento para nós e para o mundo, se não estivermos muito atentos. É por isso que todas as religiões ensinam que devemos controlar a nossa língua e todos os seus desejos.
No Zen, dizemos, às vezes, que "a língua não tem ossos." Ela pode dizer uma coisa agora e, no momento seguinte, algo totalmente diferente. A língua pode fazer qualquer coisa. Ela é a fonte de todas as mentiras e fofocas. A língua, por si só, não tem direção, não tem osso. Um eminente professor disse certa vez: "Sua maldita língua o levará à ruína. Mantenha a garrafa arrolhada. Abra-a somente quando necessário." Essa é a regra do nosso templo. E na bíblia, Jesus também ensinou que as coisas que entram na nossa boca não são as que causam impureza e sofrimento, mas sim as que dela saem, causando imenso sofrimento ao mundo. Fala correta significa ser cuidadoso, a cada momento, com aquilo que a nossa língua faz. Significa usar a língua para ajudar os outros através de um discurso claro, cheio de compaixão. Se você abandonar as suas opiniões e a sua condição e não fizer absolutamente nada na sua mente, a Fala Correta aparecerá por si.
(Mestre Zen Seung Sahn - A Bússola do Zen)
foto: Alice Kohler
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