sexta-feira, 30 de maio de 2014

As Ervas Daninhas da Mente


foto:Adore Noir Magazine


“Você deve ser grato às ervas daninhas que crescem em sua mente, porque elas afinal vão enriquecer sua prática.”

Não creio que lhe agrade quando o despertador toca pela manhã e você tem que se levantar. Não é fácil sair da cama e ir se sentar para meditar. E mesmo depois de chegar ao zendô e começar o zazen, você tem que encorajar a si próprio para se sentar corretamente. Isto são apenas ondas da sua mente. No zazen puro não deve haver nenhuma onda em sua mente. Contudo, à medida que você permanece sentado, essas ondas se tornam cada vez menores e seu esforço se transforma em sentimento sutil.

Costuma-se dizer que “arrancando ervas daninhas alimentamos as plantas”. Nós arrancamos as ervas daninhas e as enterramos junto às plantas para nutri-las. Portanto, mesmo que você tenha dificuldade em sua prática, mesmo que haja algumas ondas enquanto sentado, essas mesmas ondas servirão para ajudá-lo. Assim, não deve aborrecer-se por causa de sua mente. Ao contrário, fique grato às ervas daninhas porque elas vão, afinal, enriquecer sua prática. Se você tiver alguma experiência de como as ervas daninhas se transformam em alimento mental, sua prática fará progressos notáveis. Você vai sentir o progresso. Sentirá como é que elas se transformam em auto-alimentação. Claro que não é difícil fazer interpretações filosóficas ou psicológicas acerca de nossa prática, mas isso não basta. O que precisamos é ter a experiência prática de como as nossas ervas daninhas se transformam em alimento.

A rigor, nenhum esforço que façamos beneficia nossa prática, porque ele cria ondas em nossa mente. Contudo, é impossível obter completa serenidade mental sem algum tipo de esforço. Temos que nos esforçar, mas temos que esquecer-se de nós no esforço que fazemos. Nesse âmbito não existe objetividade nem subjetividade. Nossa mente está simplesmente calma, sem termos consciência disso. Nessa ausência de consciência, qualquer esforço, idéia ou pensamento se dissipa. Portanto, é necessário encorajar a nós mesmos e esforçar-nos até o último momento, quando todo esforço desaparece. Você deve pôr sua mente na respiração até deixar de estar consciente da própria respiração.

Devemos persistir em nosso esforço sempre, mas nem por isso almejar atingir algum estágio onde nos esqueçamos dele. Devemos apenas tentar manter nossa mente na respiração. Essa é a nossa verdadeira prática. À medida que você praticar, esse esforço se tornará mais e mais refinado. No início, o esforço resultará um grosseiro e impuro, mas, pelo poder da prática, tornar-se-á cada vez mais puro. Quando seu esforço se torna puro, seu corpo e sua mente se tornam puros. É essa a forma como praticamos o Zen. Uma vez que você compreender o poder inato que temos de purificar a nós mesmos e aquilo que nos circunda, você poderá agir apropriadamente, aprenderá com todos os que o rodeiam e será amável com os outros. Esse é o mérito da prática do Zen. E o caminho da prática é apenas concentrar-se na respiração. Com postura correta e com grande e puro esforço. É assim que praticamos o Zen.

(Shunryu Suzuki - Mente Zen, Mente de Principiante)


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