segunda-feira, 22 de julho de 2013

Nem sagrado nem profano

Um dos ensinamentos clássicos do Zen é o "não dualismo". Mas o que isso significa, exatamente?

Dualismo é separarmos o mundo em isto e aquilo, eu e o outro, bom e ruim, certo e errado. À medida que criamos conceitos, aí está o dualismo. Embora o dualismo ocupe um lugar legítimo em nossas vidas - ele nos ajuda na comunicação de uns com os outros e a funcionarmos num mundo multifacetado - jamais pode ser uma representação acurada da Realidade, menos ainda, a própria Realidade.

Na verdade, o pensamento dualístico nos coloca nas situações as mais problemáticas e penosas. Ele nos leva à preocupação, ao medo, à ansiedade e confusão. Mas não tem de ser assim. Pois, embora habitualmente pensemos em termos dualísticos, nunca vivemos, realmente, em dualismo.

Não é que o dualismo seja mau ou errado. É que geralmente ficamos atolados nele, acreditando que a maneira como construímos tudo em nossos pensamentos é como as coisas realmente são. Achamos que o modo como julgamos as coisas em nossas mentes - a maneira como as separamos, umas das outras - de alguma maneira nos ajuda a lidar com a Realidade. Como resultado, nós sistematicamente funcionamos de maneiras que são completamente dissociadas do modo como as coisas realmente são.

Por exemplo, nós vemos algumas coisas como sagradas e santas e outras como materiais ou profanas. Separamos o transcendente do mundano, o credo da ignorância, o insight da ilusão. No entanto, ao fazermos isso, caímos de volta exatamente no mesmo hábito do pensamento dualístico. Com essa suposição, nos predispomos para a disputa - com os demais, com o mundo e mesmo com nós mesmos.

É por isso que Bodhidharma, o monge que levou o Zen à China no século quinto, disse que manter pontos de vistas dualísticos sobre o comum e o iluminado não está de acordo com os ensinamentos do Desperto.

De acordo com Bodhidharma (e com o Zen), se vemos a iluminação - ou as pessoas iluminadas - como algo especial e os colocamos separados dos demais e de nós mesmos, nós os insultamos. Ao mesmo tempo, também insultamos a nós mesmos. Dessa forma a iluminação se torna remota, sobrenatural, misteriosa e (aparentemente) impossível de ser alcançada.

O Zen diz respeito à nossa libertação desse modo ilusório de pensar.



(O Budismo não é o que você pensa - Encontrando liberdade além de crenças, Steve Hagen, Ed. Religare)


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