terça-feira, 13 de março de 2012

O conhecimento

A coisa mais importante transmitida de geração em geração pelos budas e antepassados é a característica do conhecimento. Não se trata de um conhecimento devido ao fato de se estabelecerem relações entre um objeto e outro, ou de se defrontar com o mundo exterior. Esse conhecimento é sutil e inconcebível; portanto, rigorosamente falando, não há palavras adequadas para expressá-lo. Não se trata de algo que possamos experimentar mediante a discriminação, porque esse conhecimento nos chega sem a utilização de nossa força, de nosso poder ou de qualquer técnica. Ele provém das profundezas da existência. É o conhecimento que não tem nenhuma lacuna entre o sujeito e o objeto. Conhecer é, exatamente, a ação dinâmica e real do conhecimento. O conhecimento real participa dele próprio, torna-se um consigo mesmo. Ele aceita a estrutura de seu ser e das outras coisas. O conhecimento não tem dúvidas. Ele é "exatamente assim mesmo"; do fundo de nosso coração, dizemos: "Sim". Esse conhecimento ou "exatamente assim mesmo" significa permitir a nós mesmos e aos outros seres sermos realmente como somos. Para fazer isso, precisamos participar do próprio conhecimento.

Em outras palavras, se quisermos saber quem somos, precisamos participar de nós mesmos. Isso é muito difícil. Parece que participamos de nós mesmos mas, embora digamos: "Sim, eu sei quem sou", esse "eu" não é o eu verdadeiro tal como ele é; ainda há uma pequena lacuna. O eu precisa participar do eu, exata e intimamente. O conhecimento real deve ser mais ou menos como usar lentes de contato. Se usamos lentes de contato ou óculos claros, às vezes nem mesmo percebemos que os estamos usando; mas, se estamos de óculos escuros, geralmente temos mais consciência de sua presença.

Quando o conhecimento é completamente assimilado em nossa vida, esse conhecimento torna-se iluminado. Iluminado significa que o conhecimento está atuando de um modo concreto em cada aspecto da vida humana. Dogen Zenji usa o termo "luz", e diz que ela significa a fusão do globo ocular com a pele do olho. É exatamente como as lentes de contato. Elas geralmente não incomodam os olhos; elas se encaixam exatamente neles. As lentes de contato unem-se ao seu globo ocular e são eficazes. Você não percebe a sua presença em seu globo ocular porque ele e as lentes atuam juntos, de maneira bastante suave. Assim é com o conhecimento, ou iluminação, ou luz.

(Retornando ao silêncio - a Prática do Zen na Vida Diária, Dainin Katagiri, Ed. Pensamento)

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