Quando estamos com outras pessoas, tentamos nos comportar educadamente e com modéstia. Mas quando não há ninguém conosco, somos totalmente diferentes: nossa mediocridade quando sozinhos revela quem somos realmente.
Mesmo quando achamos que não há ninguém olhando, existe sempre Buda, o Universo e um outro Eu dentro de nós que nos observam. A expressão "humildade solitária" representa a aspiração, que pode até ser considerada uma oração, de prestar atenção ao pensamento, às palavras e ao próprio comportamento, sem mentir a esses olhos transparentes e límpidos que nos observam mesmo quando achamos que não há ninguém por perto.
Procuramos sempre divulgar as boas ações que realizamos quando ninguém nos vê, para recebermos elogios ou reconhecimento. Quando não nos elogiam, ou até mesmo nos criticam, nos desencorajamos e chegamos a achar que nossas ações perdem um pouco o valor.
Por outro lado, quando fazemos algo negativo, temos medo de que alguém possa descobrir e buscamos fazer tudo pra escondê-lo. Se o conseguimos, temos a sensação de ter ganho alguma coisa.
Mas é relativamente fácil enganar as pessoas. E suas opiniões muitas vezes são sem fundamento. Se medirmos nosso comportamento pela opinião dos outros, que é sempre tão variável, terminaremos por desperdiçar nossa vida.
Além disso, por mais que possamos agir em conformidade com o que as pessoas pensam, nossa ação será um fato de preencherá para sempre uma página de nossa existência, acrescentando ou subtraindo algo de positivo ou negativo ao nosso caráter.
Por bem ou por mal, tudo que fazemos permanece um fato que realmente aconteceu, com um peso que não é modificado de maneira nenhuma pela opinião das pessoas; é um fato que se torna uma espécie de força cármica, que nos acompanhará até o final de nossas vidas.
Desse modo, a formação de nossa personalidade é o resultado de cada ação que realizamos.
A expressão "humildade solitária" representa portanto o desejo ardente de aprender em profundidade as leis do Universo, sem se perturbar por elogios ou críticas, de ser independente das vicissitudes do mundo e de prestar sempre atenção ao próprio comportamento, agindo com prudência, sem ser iludido por glórias ou bens materiais.
Ainda que seja difícil praticar assim, gostaria de respeitar esse preceito, tentando viver cada dia de maneira útil e cuidadosa.
(Para uma pessoa bonita - contos de uma mestra Zen - Shundo Aoyama Rôshi)
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