A base da libertação humana só pode ocorrer numa dimensão cosmológica: compreender o surgir e desaparecer de tudo
foto: Luis Jungmann Girafa |
Todos os seres são Natureza Buda.
A Natureza Buda não é uma potencialidade, como uma semente que exista em todos os seres. Não é algo a ser alcançado no futuro. É a natureza fundamental de tudo que é e não é (viventes e não viventes).
Há quatro pontos a serem considerados:
1. Não antropocentrismo: a base da libertação humana só pode ocorrer numa dimensão cosmológica.
Compreender o surgir e desaparecer simultâneo e momentâneo de tudo. Inclui a vida-morte humana, mas não é centrado no ser humano.
2. Característica não substancial da Natureza Buda: todos os seres existem assim como são, numa dimensão infinita. Natureza Buda não é uma substância, não pode ser pega com as mãos, nem definida pelo intelecto, não pode ser objeto. É ilimitada, infinita, sem nome, forma ou cor. Não é algo sem limites. É o ilimitado. Não é algo sem nome. É o inominável.
Assim sendo, nenhuma coisa particular ou qualidade particular no universo corresponde ou representa a Natureza Buda. Não é transcendente nem imanente. Os seres não são engolidos nem cuspidos pela Natureza Buda. Não é panteísta — embora pareça ser —, nem teísta.
3. Não dualidade de todos os seres e Natureza Buda: a dimensão considerada aqui não é a do gerar-extinguir, tradicionalmente considerada como o nível da transmigração humana e de sua libertação, mas a dimensão do ser-nãoser, do surgir-desaparecer comum a todos os seres viventes e não viventes. Apenas aqui, na base comum a todos os seres, pode o problema de vida-morte humana ser resolvido.
Ir além da dimensão de todos os seres (ser-nãoser) é simultaneamente retornar à dimensão em que todos os seres são verdadeiramente realizados como todos os seres.
Para obter a Natureza Buda é necessário transcender o egocentrismo, o antropocentrismo e viver no plano fundamental da dimensão do ser.
A dimensão da impermanência é absolutamente necessária.
Tudo no universo simultaneamente é a Natureza Buda: árvores, plantas, animais, terra, água, fogo, vento, ar.
4. Ideia dinâmica de Impermanência-Natureza Buda: A Natureza Buda, em si mesma, é impermanência.
A impermanência de grama, árvores, arbustos e florestas é a Natureza Buda.
A impermanência das pessoas, das coisas, do corpo, da mente é a Natureza Buda.
O estados, as terras, as montanhas, os rios são impermanência, porque são a Natureza Buda.
A iluminação suprema e completa é impermanência, porque é a Natureza Buda.
O grande nirvana é Natureza Buda, porque é impermanência.
A impermanência prega a impermanência, pratica a impermanência, realiza a impermanência assim sendo pregada, pratica e realiza a Natureza Buda.
A interpretação que apresento é baseada no pensamento do fundador da nossa ordem no Japão, Mestre Eihei Dogen (1200-1253).
Todos os seres são Natureza Buda. Louvamos e cuidamos, com sabedoria e compaixão, sem discriminações ou preconceitos, pois são nosso corpo e nossa vida. Mãos em prece.
(Monja Coen - Jornal O Globo)
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