Foto: Ricardo Takamura |
É preciso usar a energia deste mês para cuidar e exigir cuidado, com ternura. Só assim as festas serão, de fato, boas.
Há um clima de festa e de animação.
Há um clima de fim de ano.
Há um clima de estresse e confusão.
O último mês do ano parece mexer com todos nós. Muita gente nas ruas, trânsito pesado, compras, 13º salário, helicópteros sobrevoam as grandes cidades.
Há nevascas no Hemisfério Norte, há enxurradas, enchentes e secas no Hemisfério Sul.
Parece que toda a Terra estremece.
Entretanto, isso acontece apenas na camada mais superficial. Estaria a pele separada da carne, dos ossos e da medula? Intersendo.
Esta camada onde nós, seres humanos, habitamos é a Terra. A Terra imensa, profunda, intensa, viva, respondendo a tudo que nela se passa, inclusive esta camada resfriada onde compartilhamos a vida com outras formas de vida.
Será possível viver sem água, sem sal?
Viver sem vegetais, minerais, animais?
Viver sem ar, sem solo fértil, sem insetos polinizadores?
Somos a vida da Terra.
Cada um, cada uma de nós é não apenas a vida da Terra, mas a vida do cosmos. Se não houver harmonia cósmica, não existimos.
A isso Buda chamava Natureza-Buda.
Natureza Buda é Natureza Iluminada, onde tudo está incluído e nada falta. Nada falta. É assim como é. E está em movimento constante como cada um, cada uma de nós, cada próton, elétron, nêutron. Dança incessante.
O que fazemos, falamos, pensamos é resultado de nossa genética (nossas heranças cromossômicas — seria isso o que os antigos chamavam de vidas anteriores?) e das experiências que passamos durante todo o processo de nossa formação como seres humanos. Desde a maneira como fomos concebidos/as, como estivemos (amados/as ou não) no útero materno, quais as experiências da infância e assim por diante.
Dizem os neurocientistas que 95% da maneira como respondemos à realidade são pré-determinados. Mas há 5% maravilhosamente surpreendentes e indeterminados. Cinco por cento de livre escolha, de surpreendentes respostas (e não reações).
Podemos facilitar mudanças extraordinárias com esses cinco por cento.
Podemos escolher o nobre silêncio à falação insensata. Podemos escolher o contentamento invés do resmungo, da reclamação constante. Podemos meditar e orar invés de nos armarmos e guerrearmos.
Fim de ano é época de reflexão.
Como podemos nos tornar instrumentos de construção de uma Cultura de Paz? Como podemos nos tornar um átomo de paz na Terra?
Observe seus pensamentos, seus pontos de vista, sua interpretação dos acontecimentos nacionais e internacionais. Você é capaz de perceber as intenções até mesmo na escolha das matérias que a mídia (nacional e internacional) seleciona para a humanidade?
Você é capaz de cultivar sentimentos de ternura e respeito a todas as formas de vida, a todas as opções espirituais, a todas as formas de fé e de ateísmo?
Estamos todos e todas interligados, e nossos pensamentos geram pensamentos — individuais e coletivos. Vamos usar a energia deste mês de dezembro para rever valores e atores. Cuidar e exigir cuidado, com ternura, com afeto, com brandura.
A transformação é incessante. Podemos apenas direcioná-la. Que tal direcionar para o bem de todos os seres?
Só assim as festas poderão ser boas.
(Monja Coen Roshi - Jornal O Globo)
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