É preciso abrir os portais de percepção e trabalhar pelo bem de um Eu maior
Os textos dos ensinamentos antigos de Buda dizem que para conhecermos nossa natureza verdadeira é necessário que mantenhamos uma comunhão espiritual com todos os Budas.
Há inúmeros Budas — tantos quanto grãos de areia. Cada ser humano que desperta, que se percebe interligado a tudo e a todos, cada pessoa que, com visão clara, límpida, iluminada, age, pensa e fala para o bem de todos os seres — este é um Buda. Mas cuidado. Nossa mente pode nos enganar, nos iludir, e, acreditando na ilusão, nos tornamos criaturas que fazem, falam e pensam de forma errônea acreditando ser o bem.
Budas são pessoas que através da prática incessante reconhecem sua natureza Buda. Pessoas que se questionam, que procuram, que encontram e ainda assim continuam a procurar.
Praticar Buda é estar em contato com sua própria essência verdadeira, que é a mesma de tudo que existe. É um observar profundo e de longo alcance, capaz de ver os lamentos do mundo e atender os pedidos verdadeiros.
Natureza Buda, natureza iluminada, não é algo místico, intelectualmente conceituado. São portas, janelas, paredes, grama, plantas, solo, água, vento e ar. São animais e pássaros. Seres humanos e gotas de chuva.
É se reconhecer presente em toda parte, em cada partícula. Cada criatura é o todo manifesto. Não somos parte de, somos o todo, o multiverso em sua harmonia. Sem dentro nem fora. Entrar em contato com a natureza Buda é o que nos dá verdadeira alegria e contentamento.
Comunhão espiritual é tornar-se uno, una, com todos os Budas e perceber que todos os Budas comungam com todos os seres. Não estamos separados. Sentamo-nos na mesma mesa com os seres sábios, mantemos os mesmos hábitos, o pensar luminoso e claro, a ação e a palavra que conduzem à harmonia e ao bem geral.
Entretanto, se não houver a procura não haverá o encontro, não haverá a comunhão. É preciso esforço correto, prática correta, pensamento correto, ação correta, concentração correta e meditação correta.
Na verdade estamos — tudo e todos — sempre dentro da pupila do olho de Gautama Buda (o Buda histórico, também conhecido como Xaquiamuni Buda, que viveu há mais de 2.600 anos). Somos essa pupila. Toda a terra e todos os seres do multiverso estamos assim interligados através de uma rede de interdependência. Nada existe por si só.
Como, então, pode haver inimigos?
Como, então, pode haver guerras, invasões, insultos, agressões?
Como, então, pode haver assassinatos, crimes, drogas, acusações falsas, corrupção?
Nos jornais internacionais reconheço os problemas nacionais — tão semelhantes.
Posição e oposição formam um par, como o pé da frente e de trás ao andar?
Pode haver oposição sem posição?
Comunhão espiritual é abrir os portais de percepção e comungar — receber em você, tornar-se um com Budas, com seres iluminados, seres plenos de sabedoria e compaixão. Quando assim fazemos, nos tornamos hábeis em confraternizar, em trabalhar pelo bem de um Eu maior do que nossos pequeninos eus. Podemos discordar, mas sabemos dialogar e construir uma cultura de paz e de não violência. É possível. Há muitas pessoas tecendo essa tapeçaria. Junte-se aos que se libertam da dualidade e penetram a sacralidade.