quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Humildade solitária




Quando estamos com outras pessoas, tentamos nos comportar educadamente e com modéstia. Mas quando não há ninguém conosco, somos totalmente diferentes: nossa mediocridade quando sozinhos revela quem somos realmente. 

Mesmo quando achamos que não há ninguém olhando, existe sempre Buda, o Universo e um outro Eu dentro de nós que nos observam. A expressão "humildade solitária" representa a  aspiração, que pode até ser considerada uma oração, de prestar atenção ao pensamento, às palavras e ao próprio comportamento, sem mentir a esses olhos transparentes e límpidos que nos observam mesmo quando achamos que não há ninguém por perto. 

Procuramos sempre divulgar as boas ações que realizamos quando ninguém nos vê, para recebermos elogios ou reconhecimento. Quando não nos elogiam, ou até mesmo nos criticam, nos desencorajamos e chegamos a achar que nossas ações perdem um pouco o valor.

Por outro lado, quando fazemos algo negativo, temos medo de que alguém possa descobrir e buscamos fazer tudo pra escondê-lo. Se o conseguimos, temos a sensação de ter ganho alguma coisa.

Mas é relativamente fácil enganar as pessoas. E suas opiniões muitas vezes são sem fundamento. Se medirmos nosso comportamento pela opinião dos outros, que é sempre tão variável, terminaremos por desperdiçar nossa vida.

Além disso, por mais que possamos agir em conformidade com o que as pessoas pensam, nossa ação será um fato de preencherá para sempre uma página de nossa existência, acrescentando ou subtraindo algo de positivo ou negativo ao nosso caráter. 

Por bem ou por mal, tudo que fazemos permanece um fato que realmente aconteceu, com um peso que não é modificado de maneira nenhuma pela opinião das pessoas; é um fato que se torna uma espécie de força cármica, que nos acompanhará até o final de nossas vidas. 

Desse modo, a formação de nossa personalidade é o resultado de cada ação que realizamos.

A expressão "humildade solitária" representa portanto o desejo ardente de aprender em profundidade as leis do Universo, sem se perturbar por elogios ou críticas, de ser independente das vicissitudes do mundo e de prestar sempre atenção ao próprio comportamento, agindo com prudência, sem ser iludido por glórias ou bens materiais.

Ainda que seja difícil praticar assim, gostaria de respeitar esse preceito, tentando viver cada dia de maneira útil e cuidadosa.

(Para uma pessoa bonita - contos de uma mestra Zen - Shundo Aoyama Rôshi)


quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Ignorância




O que é ignorância? A Ignorância, ou Avidya, é juízo falso ou a concepção errada de existir aquilo que não existe. Por meio de Avidya, o homem acredita que esta criação material é a única coisa que substancialmente existe, nada mais existindo além dela, esquecendo-se de que esta criação material nada mais é, substancialmente, que um simples jogo de ideias no Espírito Eterno, a única Substância Real, para além da compreensão da criação material. Essa Ignorância não apenas é uma aflição em si mesma, mas é também a origem de todas as demais aflições do homem.

(A Ciência Sagrada - Swami Sri Yukteswar)


terça-feira, 23 de outubro de 2018

Buda e o tapa



Buda estava sentado embaixo de uma árvore falando aos seus discípulos. Um homem se aproximou e deu-lhe um tapa no rosto.

Buda esfregou o local e perguntou ao homem:

- E agora? O que vai querer dizer?

O homem ficou um tanto confuso, porque ele próprio não esperava que, depois de dar um tapa no rosto de alguém, essa pessoa perguntasse: "E agora?" Ele não passara por essa experiência antes. Ele insultava as pessoas e elas ficavam com raiva e reagiam. Ou, se fossem covardes, sorriam, tentando suborná-lo. Mas Buda não era num uma coisa nem outra; ele não ficara com raiva nem ofendido, nem tampouco fora covarde. Apenas fora sincero e perguntara: "E agora?" Não houve reação da sua parte.

Os discípulos de Buda ficaram com raiva, reagiram. O discípulo mais próximo, Ananda, disse:

- Isso foi demais: não podemos tolerar. Buda, guarde os seus ensinamentos para o senhor e nós vamos mostrar a este homem que ele não pode fazer o que fez. Ele tem de ser punido por isso. Ou então todo mundo vai começar a fazer dessas coisas.

- Fique quieto – interveio Buda – Ele não me ofendeu, mas você está me ofendendo. Ele é novo, um estranho. E pode ter ouvido alguma coisa sobre mim de alguém, pode ter formado uma ideia, uma noção a meu respeito. Ele não bateu em mim; ele bateu nessa noção, nessa ideia a meu respeito; porque ele não me conhece, como ele pode me ofender? As pessoas devem ter falado alguma coisa a meu respeito, que "aquele homem é um ateu, um homem perigoso, que tira as pessoas do bom caminho, um revolucionário, um corruptor". Ele deve ter ouvido algo sobre mim e formou um conceito, uma ideia. Ele bateu nessa ideia.

Se vocês refletirem profundamente, continuou Buda, ele bateu na própria mente. Eu não faço parte dela, e vejo que este pobre homem tem alguma coisa a dizer, porque essa é uma maneira de dizer alguma coisa: ofender é uma maneira de dizer alguma coisa. Há momentos em que você sente que a linguagem é insuficiente: no amor profundo, na raiva extrema, no ódio, na oração.

Há momentos de grande intensidade em que a linguagem é impotente; então você precisa fazer alguma coisa. Quando vocês estão apaixonados e beijam ou abraçam a pessoa amada, o que estão fazendo? Estão dizendo algo. Quando vocês estão com raiva, uma raiva intensa, vocês batem na pessoa, cospem nela, estão dizendo algo. Eu entendo esse homem. Ele deve ter mais alguma coisa a dizer; por isso pergunto: "E agora?"

O homem ficou ainda mais confuso! E buda disse aos seus discípulos:

- Estou mais ofendido com vocês porque vocês me conhecem, viveram anos comigo e ainda reagem.

Atordoado, confuso, o homem voltou para casa. Naquela noite não conseguiu dormir.

Na manhã seguinte, o homem voltou lá e atirou-se aos pés de Buda. De novo, Buda lhe perguntou:

- E agora? Esse seu gesto também é uma maneira de dizer alguma coisa que não pode ser dita com a linguagem. Voltando-se para os discípulos, Buda falou:

- Olhe, Ananda, este homem aqui de novo. Ele está dizendo alguma coisa. Este homem é uma pessoa de emoções profundas.

O homem olhou para Buda e disse:

- Perdoe-me pelo que fiz ontem.

- Perdoar? – exclamou Buda. – Mas eu não sou o mesmo homem a quem você fez aquilo. O Ganges continua correndo, nunca é o mesmo Ganges de novo. Todo homem é um rio. O homem em quem você bateu não está mais aqui: eu apenas me pareço com ele, mas não sou mais o mesmo; aconteceu muita coisa nestas vinte e quatro horas! O rio correu bastante. Portanto, não posso perdoar você porque não tenho rancor contra você.

E você também é outro, continuou Buda. Posso ver que você não é o mesmo homem que veio aqui ontem, porque aquele homem estava com raiva; ele estava indignado. Ele me bateu e você está inclinado aos meus pés, tocando os meus pés; como pode ser o mesmo homem? Você não é o mesmo homem; portanto, vamos esquecer tudo. Essas duas pessoas: o homem que bateu e o homem em quem ele bateu não estão mais aqui. Venha cá. Vamos conversar.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018


Neste mundo, o ódio jamais extingue o ódio. O ódio  só pode ser extinto pelo amor. Essa é a lei ancestral e eterna.
(Dhammapada)



sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Respire



"Você já reparou que a inspiração chega quando não a estamos buscando? Ela chega quando toda expectativa acaba, quando a mente e o coração se acalmam”

Jiddu Krishnamurti

AVISO

Em observância à recomendação do Decreto Distrital, as atividades do Zen Brasília serão temporariamente suspensas, inclusive a Jornada de Z...