Na bolha do ego, a mínima contrariedade adquire proporções desmedidas. A estreiteza de nosso mundo interior faz com que, ao ricochetear sem parar nas paredes dessa bolha, nosso estado de espírito e nossas emoções se amplifiquem de maneira desproporcional e invasiva. A menor alegria torna-se euforia; o sucesso alimenta a vaidade; a afeição cristaliza-se em apego; o fracasso nos mergulha na depressão; a contrariedade nos irrita e nos torna agressivos. Faltam-nos recursos interiores necessários para administrar saudavelmente os altos e baixos da existência. Esse mundo do ego é como um pequeno copo d’água: algumas pitadas de sal são suficientes para torná-lo intragável. Opostamente, aquele que estoura a bolha do ego é comparável a um grande lago: um punhado de sal não altera em nada seu sabor. Por essência, o egoísmo não faz mais que perdedores: nos torna infelizes e, por nossa vez, causamos as desventuras daqueles que nos rodeiam.
A segunda razão deve-se ao fato de que o egoísmo está fundamentalmente em contradição com a realidade. Baseia-se no postulado falso conforme o qual os indivíduos são entidades isoladas, independentes umas das outras, O egoísta espera construir sua felicidade pessoal na bolha de seu ego. Basicamente ele diz: “Cabe a cada um construir sua própria felicidade, mas essa não é minha ocupação”. O problema é que a realidade é totalmente outra: não somos entidades autônomas e nossa felicidade não pode ser construída senão com o concurso dos outros. Mesmo se tivermos a impressão de ser o centro do mundo, esse mundo permanece como sendo o dos outros.
(Matthieu Ricard, A revolução do altruísmo, p.64-65)
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