Os Três Preceitos Puros são:
Evitar o mal.
Fazer o bem.
Fazer o bem aos outros.
"Evitar o mal" enfatiza não contribuir para o aumento da delusão no mundo, sendo essencialmente uma forma passiva de olhar a vida. Por contraste, "Fazer o bem" enfatiza agir para o aumento da clarificação espiritual no mundo, sendo, por isso, uma forma mais ativa de ver a vida. "Fazer o bem" enfoca o que podemos fazer para melhorar nossa própria situação. "Fazer o bem aos outros" aciona todas as esferas aparentemente externas a nós mesmos. O primeiro e o segundo Preceitos Puros lidam conosco e o terceiro com os outros.
Quando falamos do ponto de vista intrínseco, onde não há separação entre o eu e o outro, os três preceitos se fundem.
Toda a ação que fazemos pode ser encarada do ponto de vista dos Três Preceitos Puros. Sempre podemos nos perguntar: o que estou fazendo, exatamente agora, é mau ou me torna uma pessoa mais deludida? O que estou fazendo, neste exato instante, melhora minha situação ou me traz o bem? O que estou fazendo agora é bom para os outros? "Evitar o mal" me diz para não fazer nada que possa vir a tornar a situação mais deludida. O que estou fazendo me ajuda a entender o significado da vida? Essa questão se origina do ponto de vista do "Fazer o bem." O que estou fazendo ajuda as pessoas a entenderem o significado da vida? Essa questão se origina do ponto de vista do "Fazer o bem aos outros."
Vamos dar uma olhada na atividade da meditação Zen (Zazen) em termos dos Três Preceitos Puros. Quando a vemos como um tempo que nos damos do estresse da vida diária, nós a consideramos em termos de "Evitar o Mal". Quando a encaramos como uma terapia individual - para encontrar paz de espírito, tranquilidade, descanso, etc. - nós a encaramos em termos de "Fazer o Bem".
Entretando, é no "Fazer o bem aos outros" que reside a maior importância do Zazen porque este progressivamente quebra a distinção entre o eu e o outro. Trata-se de uma fonte de energia poderosa e irrestrita que flui de forma natural e se estende infinitamente a todo o universo. Não se pode tentar pará-la porque, se o fizermos, não se tratará mais de prática Zen, já que o Zen equivale a toda a vida. Aquelas pessoas que buscam no Zen algum tipo de santuário estão implicitamente rejeitando a vida inteira e se contentando com apenas uma parte dela onde possam se sentir à vontade. Temos que ser o Bodisatva "praticando em profunda prajnaparamita", o que significa abandonar qualquer fantasia de descanso. Quando fazemos Zazen nos tornamos conscientes de um centro sem forma - como o olho de um furacão - que é extremamente calmo e, ao mesmo tempo, um redemoinho de tremenda atividade abrangendo tudo. A energia do Zazen naturalmente nos leva além dos preceitos "Evitar o mal " e "Fazer o bem", ambos restritos à esfera do eu, para a esfera do "Fazer o bem aos outros".
(Os Preceitos de Bodisatva - Perspectivas literal, subjetiva e intrínseca, Glassman, Bernard (Bernard Tetsugen. In: Infinite Circle in Zen/Bernie Glassman. Tradução de Gozen Míriam Martinho. Boston Massachussets: Shambala Publications, Inc., 2002, p. 109-117.)